Entrevista

O que dizem os escritores da Recreio

Publicação original: 2009por Livro

            O que dizem os Escritores da Recreio

 

Joel Rufino dos Santos

 

Como surgiu o JoelRufino dos Santos escritor?

Um pouco por "vocação", desde criança e bastante por "ideologia", desde a adolescência politizada que tive (lutas estudantis, militância no Partido Comunista, leitura de clássicos do socialismo etc.).

Qual a importância da Revista Recreio na sua vida de autor?

A importância de Recreio foi me permitir o pontapé inicial. Descobri ali o gosto de escrever para crianças, ganhei o estímulo dos colegas (Ruth Rocha, Sonia Robato e outros) e o reconhecimento do público infantojuvenil.

Que tipo de história os editores lhe pediam? Havia restrições? Orientação?

Pediam histórias interessantes, apenas isso. Não me lembro de qualquer restrição especial, de conteúdo, às minhas histórias. Quanto à orientação, só me lembro da puramente editorial (tamanho da frase etc.).

Como autor, você alguma vez se sentiu censurado, em algum nível, na Revista Recreio?

Não.

Houve alguma reação, dos editores ou dos meios pedagógicos, quanto à linguagem que você usou na Revista Recreio?

Quanto à linguagem, não. Quanto ao conteúdo, quando publicamos Marinho, o marinheiro, uma autoridade da Marinha interpelou a revista sobre a intenção que eu tive ao colocar um passarinho, no lugar do boné, na cabeça do comandante do navio. Não demos maior atenção a essa interpelação.

Qual foi o principal estímulo para você continuar escrevendo para a Revista Recreio?

O estímulo era uma combinação de elogios com cachês por história publicada, num momento em que eu necessitava de dinheiro para me sustentar.

Havia algum tipo de pressão comercial?

A pressão comercial, se havia, era sobre a revista e a editora, não sobre mim, um contratado em regime de free-lancer.

 

Você teve experiências em outras revistas?

Sim. Na revista Nova Escola.

Como você avalia a contribuição da Revista Recreio para a literatura Infantil Brasileira?

Suponho que a Recreio tenha deflagrado o bomm de literatura infantojuvenil dos anos 1970. Ajudou a formar um público, a revelar autores aqui e no exterior etc. É apenas uma suposição, não sou crítico literário nem especialista nesse gênero literário.

Quais das suas histórias foram publicadas originalmente na Revista Recreio?

O curupira e o espantalho; Marinho, o marinheiro; O caçador de lobisomem; História de trancoso; Aventuras no país do pinta-aparece; O jacaré que comeu a noite; A flauta de Pam; O mistério de Zuambe; Cururu virou pajé.

Alguns autores que escrevem literatura “infantojuvenil” criticam esse rótulo, afirmam que não existe “literatura infantil”, mas apenas literatura... Qual é sua definição sobre a sua literatura?

A crítica é ociosa. É questão de nomenclatura. Literatura é o que se chama literatura. O único pré-requisito é que ela se componha de palavras, o que inclui a até mesmo a palavra não escrita. Daí minha definição: literatura é a arte de seduzir por meio de palavras. Seduzir para onde? (Seducere: tirar do caminho, desviar). Aí a vontade é do freguês. A minha é desviar o leitor da pequenez da aparência para a grandeza do ser. Ou se preferir: da existência para a essência que, no entanto, é apenas existência.

 

Quais escritores você leu em criança? Acredita que eles o tenham influenciado?

Certamente os autores que li na infância (entre os sete e os treze anos) me influenciaram. A Bíblia, histórias em quadrinhos, em primeiro lugar. Depois, Júlio Verne, Walter Scott, Jack London; Jorge Amado, Monteiro Lobato...

A leitura, além de poder ser um prazer, ensina o leitor a pensar, criticar e argumentar, como você aborda essa temática em sua obra?

Exatamente como você diz, procurando não separar o prazer do pensamento e da crítica e da argumentação (que no caso da literatura se faz pela narração).

 

As estatísticas mencionam que 60% dos livros vendidos no Brasil são para crianças. É algo impressionante! Como você explica que esse público habituado a ler, ao tornar-se adulto, esquece esse prazer?

 

Um dos objetivos não confessados da escola brasileira é matar o gosto pela leitura que eventualmente a criança traga ao ingressar nela. Do ponto de vista da ordem social que, direta ou indiretamente todos defendem, não há qualquer interesse em ter leitores. Não é que a ordem social seja contra a formação de leitores. É pior: ela não perde ou ganha nada em tê-las. A escola, fazendo que a criança deteste a leitura, é um agente imprescindível da ordem social. Ela oferece similares da literatura: a televisão, o cartaz publicitário, a Internet. A escola é que faz esquecer o prazer da leitura, preparando a criança para este outro prazer: o prazer da televisão.

 

 

 

 

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