Artigo

Luís apagou o pai da memória e manteve viva a memória da mãe

Publicação original: 2004por Joel Rufino dos Santos

Lá por 1830 um pai pegou o filho pela mão: "Vou te levar pra conhecer um barco que atracou na Bahia." 

Não era habitual aquele pai branco levar a passeio o menino negro (teria dez anos). Entregou-o a outros homens, nada amistosos. Estes o repassaram a outros, no porto de Santos. Amarrado a peças grandes e pequenas, subiu a Mantiqueira.

Em algum momento dessa enorme decepcção, o menino terá jurado que não se abateria. Foi toma-pancadas ou moleque: seu trabalho era aguentar as brincadeiras sadomasoquistas do filho do amo (a versão feminina, moleca, era para iniciação sexual dos pequenos machos da família). Foi explicador de menino burro, praça da Força Pública, copista, amanuense, escrivão de polícia, jornalista e rábula.

Isso depois de provar na justiça que sua venda foi ilegal (o tráfico de escravos era proibio desde 1831).

Luís Gonzaga Pinto da Gama foi, sobretudo, o maior líder abolicionista. Libertou centenas de escravos. Fundou a Confederação Abolicionista (1885), que comandou a luta contra a escravidão. Seu lema: "A escravidão é um roubo." Outro: "O escravo que mata o seu senhor, seja em que circustâncias for, age em legítima defesa."

Morreu seis anos antes da Lei Áurea. Nunca quis dizer o nome do pai branco, que o vendeu. Mas tinha orgulho da mãe, a africana islamizada Luísa Mahin, deportada como revolucionária (nas rebeliões malês, de 1808 a 35).

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