Artigo

Tempo brasileiro

Publicação original: 2009por Joel Rufino dos Santos

Tempo brasileiro

  

Para que serve um historiador? Em primeiro lugar, para dizer como a coisa começou - qualquer coisa. E, eventualmente, para nos explicar como essa coisa continua funcionando. O que ele não pode - e, tantas vezes, no passado, incorremos neste erro - é dizer o que vai acontecer, como a coisa vai funcionar. A história, enquanto disciplina cientifica, sofreu nos últimos tempos diversos golpes, que a derrubaram do pedestal em que se colocara. A história mal serve para dizer como a coisa está funcionando e, ainda assim, com a ajuda de outras disciplinas. O historiador se limita a nos dizer como isso que aí está se tornou isso que aí está.

 

Parece pouco, mas é bastante; dá uma certa garantia de que aquilo que se tenha a dizer vá servir de alguma maneira. O trabalho do historiador não serve para ensinar a proceder politicamente, serve para divertir. Também parece pouco, mas é muito: divertir, na sua acepção original, significa se colocar no lugar do outro, sair de si, deixar o seu lugar, se colocar no lugar do outro e, do lugar do outro, olhar as mesmas coisas que daqui desse lado ele olhava. É, pois, um exercício de outridade - ou de alteridade.

 

Estou aqui, portanto, para dizer como o que está aí começou, como o nosso tempo começou, o que originalmente aconteceu em nosso tempo até se transformar no que aí está. No entanto, os historiadores não são os indicados para dizer como essa coisa vai se desdobrar, como vai se comportar no futuro.

 

O que chamo de nosso tempo pode começar em qualquer data por volta da Segunda Guerra Mundial. Quando se fala nosso tempo, está se falando do que aconteceu aproximadamente do fim da Segunda Guerra, em 1945, até hoje. Abarcaria, portanto, os últimos 50 anos. Esse é o nosso tempo. Para demarcar o seu começo, pensei em vários episódios históricos, mas acabo me fixando na morte de um escritor.

 

Em 1945, morria Mário de Andrade, na rua Lopes Chaves, em São Paulo, cercado de três mulheres da família. Por que a morte de Mário de Andrade é um bom emblema para localizar o começo do nosso tempo? É que com ele começavam a morrer algumas ilusões da inteligência brasileira. Mário se dedicou durante a sua curta vida a compreender o país, a buscar uma síntese entre o litoral e o sertão, o urbano e o rural - que já tinha sido, aliás, a angústia de outros pensadores antes dele. Só que ele levou ao extremo. Pode-se dizer que, num certo sentido, Mário de Andrade morre disso, dessa depressão. Morre desse desejo de síntese do Brasil e, a partir daí, é um o tempo que começa. Personalidades como a de Mário de Andrade vão ficando cada vez mais raras até, talvez, em algum momento, desaparecerem.

 

Talvez o que eu vá dizer em síntese, como fala principal - porque tudo o que venho fazendo até aqui é uma introdução -, soe no final como depressivo, como triste, como cético, como sem perspectiva. Mas é preciso ver que a história também tem essa função. Embora os historiadores não gostem muito de admitir, a história é um relato de fracassos, um amontoado de derrotas que vai crescendo a cada geração: após a sua derrota, assiste à derrota da geração seguinte. É como se fosse um monte de derrotas posto em algum lugar do espaço.

 

Antes de entrar no principal do que vou propor, do ponto de vista do historiador, como definição do nosso tempo, devo fazer outra advertência. O censo comum supõe que a história explica o presente pelo passado, seria essa a sua função. Quando se quer compreender o que está acontecendo hoje, se vai ao passado e se traz de lá a explicação genealógica. Os historiadores mais críticos não gostam muito dessa idéia. O próprio Marc Bloch, medievalista que está na origem da moderna filosofia da história, a definia como ciência da duração no tempo, e não ciência do presente pelo passado - ou disciplina do passado pelo presente e do presente pelo passado, uma vez que o passado também se explica pelo presente. Portanto, a história ficaria restituída à seguinte definição: ciência da duração no tempo.

 

Farei, em seguida, dez proposições sobre o tempo presente. São toques, como pinceladas com algum valor de definição.

 

Primeira proposição: nosso tempo é o tempo do homem veloz. Até aqui vivíamos o tempo do homem lento. A revolução dos meios de comunicação e transporte acelerou de tal maneira o tempo que ele hoje se mede em bilionésimos de segundo - por exemplo, no interior dos computadores. Mesmo os homens lentos, que não mexem com informática, que não viajam de aviões supersônicos, etc., estão submetidos ao império do homem veloz. Ocorre aqui o mesmo que com os homens sem ciência, os que nada sabem de ciência mas, entretanto, têm sua vida determinada pela ciência e a técnica, como se não pudéssemos fugir delas, mesmo que sejamos leigos, e da velocidade, mesmo que sejamos lentos.

 

Segunda proposição: o tempo veloz é, na sua essência, o tempo de realização atual da mercadoria a nível mundial. A técnica e a ciência, na condição de investimento de capital, é que produziam a formidável aceleração do tempo que nos conduz à situação de hoje, ser cada dia mais veloz para nada, a não ser para vender mercadorias. O emblema do tempo veloz é a Fórmula 1, os homens alienados são levados a amar a velocidade pela velocidade, quando ela não passa da velocidade da mercadoria. A doença do tempo veloz é a droga, que significa a maior quantidade de aventura existencial no mínimo de tempo. Como dizem os italianos, "tuto e súbito."

 

Terceira proposição: esse tempo que se inicia, para os brasileiros, com a emblemática morte de Mário de Andrade, é o da revolução jovem. Não apenas o ideal da vida passou a ser jovem - rock\'n\'roll, jeans e fast-food -, o jovem se tornou a fatia principal do mercado mundial. Com o transcorrer dos anos, a juvenilidade se esticou para abarcar pessoas com menos de 15 anos, por um lado, e mais de 25, por outro. É esse o significado da reclamação que Nelson Rodrigues, o dramaturgo, fazia lá por 1969, naquela sua maneira sintética de definir o mundo: "No Brasil, é pecado não ser jovem." Ser jovem deixa de ser uma idade para ser uma economia do tempo. Todas as profissões, mesmo as mais respeitáveis, se tornam juvenis. Na imprensa, por exemplo, a notícia será uma mercadoria vendida por jovens atentos ao índice de audiência, ao fazer simples, ao fazer curto, ao fotografar bem, etc. Em nosso tempo, televisão submete o jornal ao controle gerencial da notícia, isto é, o tratamento da notícia como mercadoria corresponde historicamente ao controle tecnoburocrata da economia e da política. Uma regra metodológica muito usada pelos historiadores para definir o que é um fato histórico é buscar a correspondência daquele episódio ou evento, em outros campos de atividade, em outros setores da sociedade, se caracteriza como um fato histórico.

 

A revolução jovem é um fato histórico porque se verifica em todos os campos de atividade social, em todas as instâncias do ser, se quisermos usar uma linguagem filosófica, obviamente dentro do tempo histórico que é o nosso. Não acontecia isso antes, e certamente não acontecerá mais tarde, algum dia.

 

Quarta proposição: em nosso tempo brasileiro, a cidade domina o campo que tende a desaparecer. No plano político apareceram duas saídas para essa revolução urbana: a democracia populista, entre 1950 e 64, e o poder tecnoburocrata, segundo o qual todo o problema social pode ser resolvido administrativamente. É possível que essa mesma fórmula, essa mesma proposição, tenha chegado à reflexão de vocês de outra maneira, por outras palavras, em termos de outra disciplina; são formulações sintéticas, que abarcam uma multidão de fatos e por isso dão a impressão talvez de serem um pouco abstratas, mas estou falando de fatos conhecidos de todos.

 

O que é democracia populista? É aquela que surge, se desenvolve e declina no Brasil entre 1945 e, digamos, 1964. Os governos Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart – estes dois últimos por um breve período - se encaixam dentro disso que eu chamo de democracia populista. Foi uma das saídas políticas para a revolução urbana, troca do campo pela cidade da maioria dos brasileiros. Até 1950, aproximadamente, a maior parte dos brasileiros vivia na cidade. Essa revolução foi uma marca desse nosso tempo. Ela exigiu saídas políticas, dispositivos políticos, dos quais aponto aqui os principais: a democracia populista e a democracia tecnoburocrata, que temos desde que os militares assumiram o poder. A ditadura militar se encerrou, mas os governos que se seguiram, Collor, Fernando Henrique e Lula, não escapam à classificação de poder tecnoburocrático, com as variações fáceis de perceber.

 

Quinta proposição: em nosso tempo, o Brasil se mostra uma nação inconclusa. A geração de Mário de Andrade - e a seguinte – Acreditava que o Brasil se concluiria como nação. O que significa isso? Que se consolidaria como Estado, território e povo. Não aconteceu, e o Brasil continua um caso formidável de nação inconclusa. O Estado perdeu soberania, o território se desterritorializou, o povo foi substituído pela massa, somos um capitalismo tardio, como costumam dizer ou gostam de dizer alguns observadores. É que a conclusão da nação, objetivo estratégico da democracia populista, saiu da pauta, não se coloca mais na agenda nacional. A própria ampliação do Estado, basicamente pelas organizações da sociedade civil, e a imprescindibilidade da reprodução capitalista, que é a sua função principal, levaram à crise, igualmente, as estratégias políticas de conservação e de transformação social.

 

Sexta proposição: nosso tempo é o da ampliação e refundação do Estado, marca também facilmente visível desse tempo em que vivemos. O Estado não é mais aquele que era antes, e já não falo do que foi no século XIX, nem mesmo no começo do século XX. Enquanto o capital, como sempre, produz valor, o Estado passa a produzir uma espécie de antivalor, isto é, um valor que não visa ao lucro. O encontro desse valor produzido pela empresa privada e do antivalor produzido pelo Estado anula os dois, fazendo aparecer aquilo que alguns sociólogos e historiadores chamam de publisfera, ou seja, uma camada que envolve aquele Estado antigo, como nós o conhecíamos. Nessa publisfera é que se dá, hoje, a reprodução do sistema, terra de ninguém em que o capital se alimenta de fundos públicos.

 

Essa é uma das características mais notáveis e, ao mesmo tempo, mais polêmicas desse tempo brasileiro em que vivemos. A polêmica está aí na eleição que se aproxima. O que são fundos públicos? Os principais são os recursos para a ciência e tecnologia, os subsídios para a produção, os recursos dos bancos e empresas estatais, as intervenções no open marketing, a valorização dos capitais através da dívida pública, etc. Não se pense, contudo, que o fundo público é apenas a expressão dos recursos estatais destinados a sustentar ou financiar a acumulação do capital. Ele é um mixda lógica privada e da lógica pública.

 

Sétima proposição: em razão da proposição anterior, a política como a entendíamos até aqui morreu. Diversos observadores diagnosticaram a morte da política no Brasil, o próprio censo comum já verificou isso - adianta eleger um presidente se ele vai fazer igual ao anterior, com pouca variação, se é impossível fugir de um determinado figurino? Seria, em termos talvez um pouco exagerados, dramáticos, a morte da política. Não se concluindo a nação, não faz diferença ocupar o governo, todas as políticas tendem para o centro, leito natural das economias-mundo, ou globalização, que substituíram as economias-nação. Num mundo globalizado, todos os governos são de centro, ou tendem a ser de centro, como todos os que tivemos depois de 1945. Os que tentaram sair do figurino acabaram encurralados, emparedados, como os de Getúlio Vargas, em 1954, e João Goulart, em 1964, dez anos depois.

 

Esse é o significado da gozação de Ulisses Guimarães - ou de Paulo Salim Maluf: "O Brasil só dá certo quando a cultura fica com a esquerda, a economia com a direita, e a política com o centro."

 

Oitava proposição: a cadeia de idealizações que sustentava a idéia de Brasil, nascida com a Revolução de 1930, se rompeu em algum ponto, levando a dilemas sem solução teórica. Em outras palavras, uma característica desse nosso tempo é que as idealizações que todo país necessita para se autodefinir se desfizeram, acabaram, sendo substituídas por outras idealizações.

 

Quando eu era menino, lá por 1950, tínhamos as seguintes idealizações: o Brasil tem uma natureza pródiga; aqui em se plantando tudo dá; o povo brasileiro é um povo cordial, que resolve tudo com paz e amor; o Brasil é o país do futuro. Ele tinha um destino manifesto, bastava olhar para ver que isso aqui seria um dia uma grande nação. A democracia racial era um elo forte dessa cadeia ilusória.

 

Em nosso tempo essa cadeia se rompeu em algum ponto, você pode escolher qual. Por exemplo, ao pensar na questão do negro, no tempo brasileiro presente, qualquer que seja esse pensamento já não vai mais repousar naquela idealização da democracia racial. Ela explodiu, através dos movimentos negros e do sistema de cotas sob os nossos olhos, com a nossa participação contra ou a favor.

 

Nona proposição: em nosso tempo, o que chamamos cultura, isto é, o fundamento e o destino da pessoa, é desafiada pela verdade sofística – para a qual não há fundamento nem destino. Parece abstrato, mas apenas porque é uma fórmula sintética. O que se está querendo dizer com isso?

 

Sempre se chamou de cultura aquilo que ao antigos nos ensinaram a chamar. Colo - "eu cultivo a terra" -, vejam só, é a palavra que dá origem a cultura. Usando o tempo futuro, se dizia culturus - "eu farei, eu realizarei, eu cultivarei. “Está implícita aí uma idéia de projeto, não pode haver cultura se não há projeto de cultura, se a ação não visa ao futuro e se, obviamente, não há fundamento, que é o cultivo comunitário da terra, o seu trabalho pelas gerações anteriores.

 

Em nosso tempo, essa definição - conceito, idéia - está desafiada por outras ideias, outras maneiras de ver. Muitas pessoas antigas, quando são saudosistas, acabam dizendo que não há mais cultura, que se instalou a barbárie, que acultura acabou, etc. É que o conceito que tínhamos não é mais eficaz para explicar nada, perdeu a sua razão de ser. Se não perdeu integralmente, ao menos está desafiado por outros conceitos, novos sentimentos de cultura. Um desses desafios está colocado pela idéia de verdade que se tem nesse nosso tempo: verdade é aquilo que você convenceu o outro de que é verdade. Só foi possível chegar a essa ideia, de um a verdade sofística, sobre o qual se pode sofismar, a que se pode interrogar, com o desenvolvimento da publicidade – não por acaso se diz que a publicidade é a ideologia do sistema capitalista atual. Já não importa a verdade fundamental, nem a que se projeta para o futuro.

 

A paidéia, elevação do espírito pela educação, é desafiada pela platitude do espírito, que se reproduz por contágio, por rede, não mais de cima para baixo, o mestre e o aluno, o pedagogo e o estudante; se faz agora pelo seguinte contágio: quem está perto tem a verdade, quem está longe não a tem. É como se alguma coisa essencial na cultura, na civilização, na visão de homem, tivesse desaparecido, entrasse em crise, se sentisse desafiado. A cultura, enquanto verdade do homem, e desafiada pela cultura enquanto verdade da mercadoria, a verdade publicitária. A própria ideia de homem é desafiada pela idéia do super-homem ou homem virtual.

 

Poderia chamar minha fala de Dez proposições pessimistas. Isso não é bonito, mas a história não pode embelezar o que por si é feio, desagradável ou desumano, seja lá como for. Os gregos chamavam de Cronos o semideus da história, um monstro que degrada, que mata, que leva à decadência, que faz apodrecer. Cronos, o deus da história, é o responsável pelo apodrecimento.

 

Décima e última proposição: em nosso tempo triunfa a sociedade do espetáculo. Aqui, a razão humana, esse velho problema da contradição entre homem e natureza, que era a sua vida autêntica, é substituída pela alienação ao espetáculo, produzida pela contradição entre o homem e o espetáculo, que é a vida inautêntica. Em nosso tempo, só existe o que aparece; só o que aparece cria valor, de forma que a história é substituída pelo presente contínuo. O comunismo, um dos episódios históricos que se pode colocar sob essa síntese, foi derrotado pelo espetáculo que ali era concentrado e, no capitalismo vencedor, é desconcentrado ou democrático.

Os diagnósticos pessimistas sobre o exercício da verdade fazem parte da história da civilização; porque pôde fazê-los, a inteligência avançou, a humanidade progrediu - na medida, é claro, em que há progresso da humanidade, também se pode discutir isso. Mas, na medida em que a humanidade progrediu, e do meu ponto de vista, obviamente, ela progrediu, da Antiguidade até hoje, fez isso por conta da sua capacidade de fazer diagnósticos pessimistas da realidade ou, dito de outra maneira, sempre que a humanidade esteve satisfeita, ela não progrediu, não saiu do lugar, não avançou; e, sempre que ela se mostrou altamente insatisfeita, aí sim, deu passos adiante. Ora, isso significa que esse diagnóstico pessimista de um aprendiz de historiador sobre o tempo brasileiro hoje é condição para que se continue a travar a luta do homem contra a sua alienação, entendida como separação, primeiro do homem com relação à natureza, que para sempre o condenou a um isolamento terrível e, na atualidade, a alienação decorrente da alienação entre o homem e a cultura, entre o homem e o seu espírito.

Tudo poderia se resumir naquela célebre frase de Antonio Gramsci, de que me lembrei agora: "Pessimismo no diagnóstico, otimismo na ação." É uma síntese perfeita, você pode fazer diagnósticos negativistas, mas, se se dispõe a agir positivamente, aquele diagnóstico não passa de um desafio, uma contradição que você terá de superar na sua ação política - político aí no sentido amplo da expressão.

SOARES JÚNIOR - Eu me permito ser um otimista, porque trabalho há oito anos num veículo, o rádio, que é um veículo que teve de se reinventar. Até 1950, antes da chegada da televisão, o rádio ocupava o altar na sala das pessoas. E aí, o que aconteceu? A televisão chegou, eram 200 aparelhos em 1950. Dentre esses aparelhos foi mandado um para o Palácio do Catete, para que o presidente de então, o marechal, general na época, Eurico Gaspar Dutra, pudesse assistir à programação. E logo no primeiro dia da televisão, havia duas câmeras para fazer a transmissão ao vivo, e um padre teve a idéia de estourar uma garrafa de champanhe em uma delas. A câmera quebrou, e a transmissão foi feita com apenas uma câmera. Esse era o veículo que ameaçava a pujança do rádio, que movimentava toda uma indústria do entretenimento. O que aconteceu? Obviamente, esse veículo cresceu, é o que nós vemos hoje, também muito pela a influência de um grande orador, o Carlos Lacerda, que fez campanhas contra seus adversários políticos. Essas campanhas fizeram com que as pessoas começassem a prestar mais atenção na televisão, e no começo da década de 1960 foram os profissionais, foi o dinheiro da publicidade, e o rádio teve que se reinventar.

A partir disso é que eu me permito ser um otimista, e eu não acho necessariamente que o tempo veloz que nós vivemos seja de todo ruim. Eu diria que em muitas oportunidades ele é angustiante, porque a gente faz tudo para não fazer nada, foi o que professor esclareceu em sua explanação. Na minha opinião, a gente vive seguinte realidade: desde que o homem perdeu o paradigma de cidadão para ser consumidor, os meios de comunicação tiveram de se adaptar a isso. Então, peguei a sua proposição número três, que é excelente, sobre a revolução jovem. O objetivo das rádios hoje em dia é alcançar esse de classe AB, com mais de 25 anos, que é o público consumidor, o público que compra. E, voltando ao raciocínio do rádio chamada segmentação, muito provocada pelo advento das FMs. O que é segmentação? Nada mais é do que a produção de uma determinada rádio para um determinado nicho do mercado. A gente tem a JB FM, a Paradiso FM e a Antena 1, por exemplo, que são rádios para um público contemporâneo adulto – seja lá o que isso signifique, de acordo com os comunicadores, porque nem eles entendem. Mas eles fazem o público, eles vendem os seus produtos vendem os seus espaços comerciais para esse público. A rádio CBN, também é uma rádio contemporânea adulta, e a rádio 98, a FM O Dia, são rádios com corte popular, e as vendas são para isso. Quer dizer, a publicidade se tornou muito importante no meio de comunicação. Bem lá atrás, em 1932, quando Getúlio Vargas regulamentou a propaganda no rádio, permitiu que o rádio aumentasse o seu poder de comunicação, servisse como vínculo da integração nacional, servisse como veículo que acabou sendo o porta-voz para essa mudança do paradigma do país rural para o paradigma do país urbano. Então a publicidade tem essa importância.

O grande desafio do meio de comunicação hoje em dia é que os interesses comerciais não batam os compromissos editoriais. Isso é sempre uma briga muito grande nos veículos de comunicação. É uma decisão que acho acertada. Há algumas emissoras cujos veículos, por exemplo, das organizações Globo, não permitem que seus jornalistas façam anúncios, justamente para tentar impedir que o conteúdo editorial acabe influenciado pela venda de um produto. Então eu me permito ser otimista, por quê? Porque eu acho que com essa reinvenção do rádio, foi possível a ampliação de mais postos para trabalhar, o rádio passou a ser veículo que pôde ser procurado, hoje são quatro mil emissoras em todo o país.

Penso também em outra reflexão sua, que considero perfeita, que é você explicar o passado pelo presente e o presente pelo passado. Houve um debate 2004 sobre o legado de Getúlio Vargas, passados os 50 anos da morte dele. E aí o Renato Andrade Lessa citou uma frase de um historiador: “Getúlio Vargas disse ‘hoje sou eu no poder, e amanhã são vocês’” E que a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pudesse indicar esse caminho que, por vocês é justamente a presidência do PT.

Eu queria falar ainda do otimismo independentemente de voto, independentemente do que foi feito nesses quatro anos, mas aí eu vou citar o Jorge BastosMoreno, colunista de O Globo de sábado: é muito bom viver num país em que mesmo um homem do povo, um homem que veio retirante, consegui chegar à presidência da República. Isso não o isenta de possíveis responsabilidades em coisas que possam ter acontecido. Mas por isso mesmo, por essas oportunidades, eu acabo sendo um otimista.

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