Artigo

Uma pistola dourada

Publicação original: 2005por Joel Rufino dos Santos

Neste mês de setembro, faz 328 anos que gtanhou as brenhas de Palmares certo Fernão Carrilho. Palmares eram as matas fechadas ao sul de Pernambuco (hoje Alagoas), onde se havia formado um quilombo de quase 10 mil rebeldes. 

Carrilho era um soldado astuto, ambicioso, feroz. Tipo Hernán Cortez, o ex-pastor de porcos que destruiu sozinho o império asteca. Corria longe sua fama de predador. Havia um ano tentava organizar expedição contra Palmares. O chão estava coberto de buritis podres.

Alguns senhores de engenho foram se despedir dele às portas do sertão. Carrilho levantou a voz para estimular seus homens:

"Os inimigos que ireis encontrar são numerosos, mas têm alma de escravos, se é que a têm. A natureza criou-os mais para obedecer que para resistir. É vergonhoso para os pernambucanos serem corridos por negros que eles próprios açoitaram um dia. Destruindo Palmares, teremos terra para cultivar, negros para nosso serviço."

Entre soldados brancos, estuporados de mosquitos, índios e negros, a tropa eram 185 homens. Com 13 dias de marcha forçada, Carrilho planejava pegar de surpresa a povoação de Acotirene. Estava vazia. Torturou uns presos e ficou sabendo que Ganga Zumba, o chefe supremo, se achava perto, em Subupira, com seu estado-maior. Chegou tarde, só o vento redemoinhava na Praça do Concelho.

Carrilho perdeu 50 homens por deserção. Recebeu reforço de Olinda e, enfim, localizou um pedaço do exécito palmarino. No primeiro combate, capturou 56 quilombolas. Matou João Gaspar, João Tapuia e Ambrósio, chefes de mocambos (povoações).

Um mês depois, acharam a aldeia principal, a do Amaro. Ganga Zumba estava lá. Flechado numa perna, fugiu, abandonando uma espada e uma pistola dourada.

Quando Carrilho tornou ao litoral, havia passado cinco meses. Trazia mais de 200 negros aprisionados, que repartiu entre os soldados - descontado o imposto real. Palmares tinha acabado? Carrilho passou sob um arco de triunfo e libertou, solenemente, dois pretos> Dambi e Madalena. Fossem dizer a Ganga Zumba que era aquela a última chance de se entregar. Em nome de Deus e d\'El Rei.

Rezou-se missa comemorativa na igreja principal de Porto Calvo. O padre quem era? A história o conhece apenas como padre Melo.

Anos antes, 1665, outro capitão, feroz como Carrilho, ao voltar de expedição contra Palmares, lhe dera um pretinho de presente. Padre Melo o criou com carinho, lhe ensinou histórias da Bíblia, matemática e latim. Como era manso, o batizou com o nome de Francisco. Com 12 anos, Francisco fugiu. Padre Melo adivinhou para onde, não reclamou. Quem sabe um dia não sai do mato e vem me visitar? Oficiando a missa pelo triunfo de Fernão Carrilho, aquele dia em Porto Calvo, padre Melo lembrou-se de Francisco, que agora se chamava Zumbi. 

Esse Zumbi dos Palmares é que substituiu Ganga Zumba na chefia de Palmares, depois que este perdeu uma pistola dourada e o prestígio de chefe.

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